Dor de dente. Quem já teve, sabe muito bem como é. Vou ao menos tentar descrever: uma dor incômoda, chata, que por vezes irradia por todo o crânio, causa muita dor de cabeça. É quase impossível comer, beber, ler, pensar; fazer alguma coisa, pois fica incomodando. Está lá a todo o momento. Uma dor que irradia da mandíbula até ao topo da cabeça. Não deixa, inclusive, ter uma boa noite de sono. Não há paz.
Não há quem fique de pé. Nem mesmo o mais forte dos homens. Se você pensar em alguém que seja forte e que aguente qualquer situação; nem mesmo este homem suporta, por mais insignificante e minúscula que talvez possa parecer esta dor: A dor de dente.
À primeira coisa que fazemos [e é mau costume] é nos automedicar, quando a dor aparece. Como diz o ditado “De médico e louco, todo mundo tem um pouco”, cada um se torna “médico” e se automedica. Vai imediatamente à farmácia mais próxima, compra analgésico, antitérmico e anti-inflamatório e “manda pra dentro”. Só que isto é um paliativo, já que infelizmente a origem da dor não está sendo tratada. E se não tratar a origem, a coisa só tende a piorar. E aqueles que casos que tem que fazer o procedimento chamado canal? Já ouvi de tudo sobre isto e nunca pensei que necessitaria passar por ele.
Há alguns meses eu vinha sentindo um incômodo no dente pré-molar direito inferior. Um reparo feito, quando adolescente, caiu, e eu não me importei muito. Achei que dava pra “levar” até ir ao dentista, e assim aconteceu. Dias e meses se passaram até que o “negócio” começou a piorar. Periodicamente as dores iam e vinham, e para amenizar eu usava alguns medicamentos, mas, eram só paliativos. O dentista que havia retirado um siso muito antes deste pré-molar me dar problema perguntou: “Este dente não te incomoda?”, eu respondi: “Não doutor”. Ao que ele retrucou: “Pois bem! Veja isso logo, pois se não o fizer vai te incomodar e muito, e pelo que vejo, será necessário fazer um canal”. O que eu fiz? Agendei imediatamente uma consulta para efetuar todo o procedimento necessário que os dentistas sabem, sem demora!? Não fiz nada disso!! Relaxei, vacilei, e a coisa piorou. Nos últimos três meses, as dores se tornaram intensas e eu estava “levando” esta situação com analgésicos e anti-inflamatórios Entretanto, já não estavam resolvendo mais nada.
Agora, eu não tinha do que fugir. Era necessário tratar o problema na raiz. Fui então ao dentista. O procedimento de canal levou dois dias. No primeiro dia, segundo o dentista, foi somente para limpar e polir a parte danificada do dente e uma limpeza interna para retirar os resquícios de medicamentos e sujeira que havia. No segundo, segundo sua informação, seria sem anestesia, pois como já havia limpado, e eu não havia sentido nada, não havia problemas. O problema é que o meu pré-molar era muito profundo, e apenas uma anestesia não foi suficiente. Recebi quatro injeções, pois as duas iniciais não surtiram o efeito desejado. Gritei de dor nas duas primeiras tentativas do dentista mexer na raiz. As duas últimas injeções foram na raiz do dente. Dei dois berros, que acredito eu, foi possível ser ouvido no outro lado da rua. O dentista havia me alertado: “Anderson, isto vai doer um pouco, mas logo depois vai passar”.
O problema foi resolvido. Foi tratado na raiz. Hoje não sinto mais incomodo algum no dente. Foi retirada toda sujeira e podridão da raiz. A raiz teve que ser retirada. O dente foi limpo e restaurado, com um tipo de curativo, limpo, novo, sem problemas. O espaço que antes estava cheio de bactérias e que causava infecção e a dor, agora está protegido desde a base do dente, impedindo que restos de alimentos possam entrar, (o que possibilitaria as bactérias se proliferarem e tornar a situação pior, uma vez que a higienização interna é difícil).
Você já parou pra pensar que o pecado é semelhante? No início, está tudo bem. Não sentimos nada. Está ali, bem enraizado em nós. Não nos incomoda, tem lá sua “utilidade”. Ás vezes nós percebemos que alguma coisa não está bem e tentamos usar um paliativo. Vamos apenas “levando”, esperando que o problema se resolva por si só. Só que não acontece desta forma. Pelo contrário, ele – o pecado – vai se enraizando mais, vai se aprofundando e começa o processo de morte. Mata o que era bom e traz consigo diversos problemas, e que vão causando muitos outros.
“Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim”. Salmos 42:7
Muitas vezes advertidos pelo Senhor de diversas maneiras para que tratemos uma área da nossa vida, um pecado, simplesmente achamos que não é nada, e que podemos resolver pela nossa própria força. Ledo engano. O problema vai ser alastrando, vai corroendo.
Acontece que, não somos peritos em tratar infecções e dores da alma. Queremos resolver o pecado, sem tem quer ir à raiz. Cristo, sim, Ele é o perito e Ele vai à raiz. Ele trata a alma. Chega um momento que é necessário visitar o médico, pois somente Ele sabe como agir, sabe onde está o problema, sabe onde está a raiz do problema e o problema da raiz.
Uma vez ouvi certo pregador, dizer que devemos tratar o pecado radicalmente como ele foi tratado na cruz. Por nossas forças, nosso méritos, nossa vontade isto nunca irá acontecerá, a não ser pelo sangue de Cristo, por Sua misericórdia e pela Sua Graça. Mas compreendo o que ele quis dizer, quando penso no seguinte texto:
“v.1Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus.
v2 – Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas.
v3 – Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus.
v4 – Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória.
v5 – Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria.
v6 – É por causa dessas coisas que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência,
v7 – as quais vocês praticaram no passado, quando costumavam viver nelas.
v8 – Mas agora, abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar.
v9 – Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas
v10 – e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador.
v11 – Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos.
v12 – Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência.
v13 – Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou.
v14 – Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito”. Colossenses 3:1-14
O texto deixa bem claro no início dizendo que se já ressuscitamos com Cristo, devemos procurar as coisas que são do alto. Devemos buscar de Deus e só assim será possível que a cada dia morramos para o pecado, abandonemos o velho homem, nos revistamos do novo homem à imagem de Deus. Em verdade, foi o que Tiago disse que devemos nos submeter a Deus.
Enquanto é tempo, temos muitas vezes a oportunidade de tratar pecados que não continuam nos incomodando, mas que “parece” não ser nada. Mas uma hora, ele vai cheirar mal, vai apodrecer e o tratamento terá de ser delicado.
O pecado não escolhe rico ou pobre, forte ou fraco. Até o homem mais forte, é o mais fraco. O rico é mais o mais pobre, miserável, cego e nu.
“Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também”. Efésios 2:3
Há pecados que levam tempo para tratar. Somente vamos “levando”. Estamos tratando com paliativos. Estão enraizados tão profundamente, que só damos conta, quando a coisa não vai bem mesmo. Quando começa incomodar. Quando é necessário tratar no início sem “anestesia” para nos mostrar o quão sério era o pecado não tratado. Mas o Senhor, o médico dos médicos, vem com sua Graça, e aplica aos nossos corações, na raiz do problema e começa a tirar toda a impureza, a sujeira, a podridão e nos mostrar – como aquele dentista fez – dizendo: “Está vendo? É necessário tratar na raiz e não com paliativos”. Com toda cautela, perícia e graça. No início pode ser doloroso, mas com o tempo vai passando.
E toda aquela dor, aquele incômodo que não nos deixava ter vida, e que nos arrastava para a morte, deixa de existir. Passamos a ter vida. Passamos a ter paz.
“…eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente”. João 10:10
Depois da cura, do perdão, é necessário que mantenhamos limpo o nosso coração. Continuemos persistindo e diariamente fazendo a lição de casa.
Já parou para pensar que eu não precisaria ir ao dentista para tratar este problema se tão somente eu fizesse “o dever de casa”? Se eu tivesse cuidado do jeito que deveria, se tivesse escovado corretamente, se tivesse visitado periodicamente o dentista para manutenção apenas?
Igualmente, quantos de nós não fazemos “o nosso dever de casa” em se tratando do pecado? Quantos de nós não lemos a Bíblia e não cultivamos uma vida de oração? Quantos de nós não precisamos ir “ao consultório” do nosso quarto em secreto para um “check-up” da alma, afim de não deixar a podridão tomar conta?
Costumo dizer que devemos ir a Cristo da forma como estamos, mas não podemos ficar do mesmo jeito. Perseverança em santidade é algo importantíssimo e temos a certeza que o Espírito Santo manterá seus eleitos assim.
Devemos nos achegar ao trono da graça com ousadia todos os dias, pois:
“Esta é a aliança que farei com eles Depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, E as escreverei em seus entendimentos; acrescenta: E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado. Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” Hb. 10:16-23
Mas a responsabilidade também de guardamos o nosso coração é primordial. Porém, não pelas nossas forças e vontades, mas segundo o Espírito, pela Palavra que gera fé e dá vida.
Nossa esperança é que Cristo faz o trabalho completo e nos ajuda a manter nossa alma em boas condições.
Porque quem nos justifica é Deus, somos salvos pela graça, mediante a fé, e não há condenação para os que estão em Cristo Jesus.
“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Romanos 8:1Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” Efésios 2:4-9
Porque a vontade do Senhor é a nossa santificação. Uma das evidências que nos tornamos seguidores e que tivemos a vida transformada é uma vida constante de arrependimento e abandono do pecado.
Qual o “dente” que precisamos tratar hoje? Qual é a raiz do problema? Deixe para O Especialista tratar a raiz do problema e o problema da raiz. Mostre a Ele. Abra a sua alma.
Soli Deo Gloria, Sola Gratia
Pr. Anderson Alcides